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Este espaço é um lugar para agradecermos. Nasci numa família de origem humilde, no interior de Minas. Vim para Belo Horizonte, ainda muito bebê. Meus pais passaram muitas dificuldades, mas conseguiram criar bem os 6 seis filhos.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Em busca da Paz (Conto)

Hoje, meu agradecimento será em forma de conto. Um conto que escrevi há mais de 20 anos.


Em Busca da Paz
Autora: Maria da Consolação Resende Guedes


- Que calor! Parece até que estou no deserto do Saara!

Mal-humorado e muito chateado. Era assim que se sentia Roberto. Um rapaz de 17 anos, bonito e elegante. Apesar destes predicativos, ele tinha um defeito: nunca estava satisfeito com nada. Sempre via e reconhecia nas coisas e pessoas, os seus pontos negativos. Todos e tudo nunca estavam bons. Sempre existia o “mas” ...


Era uma belíssima segunda-feira de verão. Um dia ensolarado, alegre e para muitos: divertido. Roberto, apesar de muito jovem e mal-humorado, era um rapaz responsável. Aliás, este sua principal virtude. Por ter uma grande força de vontade, ele conseguiu seu primeiro emprego, no banco. Sua posição social era de destaque. O pai era um engenheiro que trabalhava como autônomo. Não se importava e também não se preocupava com os filhos. Achava-se muito jovem e queria viver sua via sem ser incomodado com a presença ou até mesmo uma interferência dos dois filhos: Roberto e Renata.

Roberto parecia uma pessoa fria, mas tinha um coração sensível. Sofria muito por ser assim. Sabia que o pai dava-lhe dinheiro apenas para não se sentir culpado. Era uma forma de compensar o fato de não estar sendo pai. Por isso, era apenas um mantenedor dos filhos.
Aquela segunda-feira fora-lhe muito longa. Parecia não acabar. Ao chegar em casa, como sempre foi recebido por um sorriso nos lábios. Era Renata, a linda jovem de olhos azuis e boca sensual.

- Roberto! Que bom que você chegou!
- Hoje foi um dia penoso! Um calor! Fregueses xeretas! E ... muita preguiça.
- Deixe de reclamar. Será que você não perceber que é um rapaz privilegiado? Uma pessoa com muita sorte?
- Você está brincando! Será que está me achando com cara de otário?

Ele terminou esta frase com uma risada irônica, beirando o sarcasmo.
- Pense bem! Nós somos de uma classe média. Temos tudo o que queremos: uma casa linda, boas roupas, comida gostosa e farta ... Quantas pessoas dariam tudo para ter o que temos?
- Tudo!? Eu não quis isso! Eu não pedi para ser assim! Isso é felicidade? Para mim, não é!!!
- Você está sendo ingrato. Veja quantos rapazes da sua idade querem continuar os estudos e, por motivos financeiros, não podem. Pessoas que não podem nem sonhar. Você não! Já passou na faculdade e vai fazer o curso que quer, sem se preocupar com o dinheiro ... Você é um rapaz bonito, inteligente e ...
- Rico?! Que me interessa a riqueza? Que adianta ser rico e infeliz? Belíssimos predicativos para quem começa a viver. Tenho um pai que não liga para os filhos! Mamãe, antes de morrer, nos deu muito amor. Mas ... ela morreu! Riqueza e infelicidade parecem andar de mãos dadas. Eu odeio este tipo de vida!

Aqueles argumentos neutralizaram Renata. Nunca percebera que o irmão estivesse tão infeliz! Estivera tão preocupada em aproveitar a vida. Era rica, social e bonita.

- Desculpe meu irmão! Eu não sabia que você se sentia assim! Talvez você tenha razão!

Falando assim, abraçou o irmão com carinho.
- Você deve procurar a felicidade. Pode contar comigo.
- Obrigado, maninha! Eu sei que em todos os momentos difícies, posso contar com você. Vou tentar mudar e não ser tão chato!
Muitas eram as indagações de Roberto. Sua cabeça estava pesada diante de tantas dúvidas e perguntas. Saiu sem rumo. Até que algo lhe chamou a atenção. Era uma música linda e que irradia a paz. Sentiu-se bem ouvindo aquela canção:


“Você tem em comum com o sol, a vocação de nascer cada dia, como flor leve sempre alegria onde você viver. Você tem em comum com o verde, a vocação de levar esperança, você tem em comum com a criança a vocação de crescer.
Porque Deus reuniu em você, toda a beleza que existe na vida, abra os olhos porque a natureza lhe convida a ser mais você.
Você tem em comum com a montanha, a vocação de apontar para o alto, como asfalto você é chamado a ser estrada e unir. Você tem em comum com o rio, a vocação de ser mar infinito, e como estrela ver como é bonito em plena noite luzir.”

Roberto olhou procurando quem cantava tão bela canção. Seguiu a música e descobriu um velhinho acompanhado de dois jovens. O ancião aparentava uns 70 anos: cabelos brancos, rosto transfigurado pelo tempo. Compensado a figura acabada, um olhar sereno que transmitia muita paz. Era ele quem tocava violão.

Os dois rapazes eram diferentes: um negro, alto com bonitos dentes. Era muito simpático. O outro não era bonito, tinha o rosto da dor. Cabelos lisos, estatura mediana, quem olhava para ele sentia piedade sem saber por que.
- Desculpe, incomodá-los ...

Falou Roberto. Mas, a partir daí as palavras sumiram de sua mente. Ficou sem saber o que dizer. Com a habilidade de quem já vivera, o ancião sorriu e tomou a palavra:
- Meu filho!

Roberto sentiu um calafrio misturado com emoção ao ouvir aquelas palavras. Desde criança não ouvia alguém chamá-lo com tanto carinho. Olhou o ancião e viu duas nos olhos que lembraram sua mãe. Isso fazia algum tempo ...
- Não precisa ficou deslocado. Sinta-se como se fóssemos amigos há tempos. Se você quiser posso começar.

Roberto sentiu-se estranho e pensou que o senhor estava levando a conversa para a ironia. Mas o velhinho pareceu ter lido o que pensara...
- Não pense que é ironia de minha parte, filho! Mas é a experiência de vida. Meu nome é Ângelo e estes jovens são: Paulo e Martino.

Depois dos cumprimentos, Roberto contou o sentiu ao ouvir a música. E ficou estupefato quando Martino e Paulo afirmaram que lhes acontecera a mesma coisa. Paulo completou:
- Hoje sou feliz, mas isto só aconteceu depois que conheci o vovô Ângelo.

O ancião interrompeu Paulo e disse:
- Roberto, vejo que estás com a cabeça cheia de perguntas. Não se deixe levar por coisas banais. Você é jovem, mas tem uma coisa que precisa descobrir: a paz está dentro de você.
- Dentro de mim? Como? Sempre a procurei e nunca a encontrei.
- Olha, você precisa prensar! Disse vovô Ângelo. Vá para a casa, leve a letra da música (entregou-lhe uma cópia) e medite sobre o que vou dizer: “EU SOU O TERCEIRO”.
- Está bem! Encontramos-nos novamente aqui no próximo domingo.
- Estarei aqui!

Vovô Ângelo, então, pegou as mãos de Roberto e beijou-as. Roberto assustou-se com este ato. Mas, ele explicou:
- Isto que estou fazendo é para demonstrar o respeito que sinto pelos jovens, aliás, por todas as pessoas!

Dito isto, se virou e desapareceu na escuridão. Roberto ficou inerte, até que uma buzina trouxe-o à realidade. Era Renata.
- Roberto! Roberto! Eu estava preocupada com você. Saiu sem avisar...

Renata percebeu que o irmão estava diferente: tranqüilo, calmo...
- Você está diferente! O que aconteceu?

Roberto saiu dali ao lado da irmã e contou-lhe tudo que acontecera. A semana que começara péssima, terminaria de outra forma. O constante mal-humor de Roberto desaparecera. Ficou meditando sobre o que dissera Ângelo: EU SOU O TERCEIRO. Todos, que conviviam com ele, perceberam a mudança. A cada dia da semana que se passava, aumentava a ansiedade de Roberto. Queria que chegasse logo o domingo. Renata compartilhava cada instante com o irmão.

- Sabe Roberto, hoje percebi que letra desta música nos faz sentirmos únicos. Eu posso tomar seu lugar no banco, mas nunca serei você. Sabe, acredito que só seremos felizes se colocarmos em prática tudo o que Deus nos deu.
- Engraçado, eu acho que nunca acreditei em Deus. Mas... agora ... Sinto-O tão perto de mim!
Assim falando, Roberto elevou os olhos aos céus e fez uma prece:
- Deus, acho que agora estou Te conhecendo. Sempre fugir de Você. Mas Você quis me esperar em uma esquina da vida. Não sou um bom decifrador de charadas, mas acho que descobri o sentido de EU SOU O TERCEIRO. Para sermos felizes, precisamos lembrar sempre de, em primeiro lugar, VOCÊ, pois nos criastes e nos dá tudo o que precisamos. Em segundo, nosso PRÓXIMO, pois somos irmãos e, somente, em terceiro, em NÓS.

Os dois irmãos se abraçaram emocionados e prontos para encontrar o responsável por uma belíssima mudança nas suas vidas. Antes de irem ao encontro de Ângelo, eles passaram em uma igreja e a leitura bíblica falava do filho pródigo, que deixara a casa do pai, levando sua parte na herança. Depois de tudo gastar, ele voltou para casa e, acreditando na misericórdia do pai, suplicou por perdão e propôs ser um escravo da família.

Além da linda leitura da Bíblia, Roberto pode ver que o vovô Ângelo era o padre daquela igreja. O padre, então, disse:
- Caros, irmãos em Cristo, hoje temos a visita de um jovem que conheci no início da semana e que já tenho como filho: Roberto.
Assim falando lançou um olhar penetrante a Roberto. Naquele dia, sua prática fora falar do amor de Deus aos filhos. Ao final da celebração, Roberto procurou o padre para agradecer:
- Vovô Ângelo o senhor me fez renascer para a vida. Agora sei que a paz está dentro de mim e que preciso semeá-la entre as pessoas ... Estou muito feliz!

Os três saíram da igreja. Roberto, então, gritou:
- Cuidado!

Dizendo isto se jogou na frente de um carro que vinha em alta velocidade. Foi atropelado pelo carro que não parou. Mas, um menino de 12 anos estava salvo.
- Ele arriscou a vida para me salvar! Disse.

Renata correu para junto do irmão. Colocou a cabeça ensanguentada dele sobre o colo. Tinha vontade de chorar. Roberto disse:
- Maninha! Estou muito feliz!

Falando baixinho disse ofegante:
- Diga ao ... papai ... que ... o amo ... Eu ... consegui ... eu ... so ... sou ... o ... ter ... cei ... ro.

Falando assim adormeceu para o mundo. Ouvi-se a sirene de uma ambulância. Vovô Ângelo disse:
- Ele encontrou a paz definitiva!

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